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Criando uma Família Bilíngue Durante Mudanças Internacionais – DESAFIOS, ALEGRIAS E ARREPENDIMENTOS

VOCÊ SABIA QUE MAIS DA METADE DA POPULAÇÃO MUNDIAL É BILÍNGUE?

Famílias bilíngues são aquelas cujos membros usam duas ou mais línguas (ou dialetos) para comunicação.

Em nossa casa, falamos normalmente em Português e Inglês. Em ocasiões em que meu marido e eu não queremos ser entendidos pela família, falamos o “nosso secreto” japonês. Recentemente, com dois de nossos filhos aprendendo francês, o meu esposo começou à praticar o ídioma aprendindo a muitos anos atrás, quando ele cursava o ensino médio.

Num mundo onde 50% das famílias são bilíngues, somos uma família típica, quando se trata de idiomas. Países como a Bélgica e a Suíça possuem três e quatro línguas oficiais, respectivamente. Um checada rápida na Wikipedia mostra que existem pelo menos outros cinco países com vários idiomas oficiais, e essa lista não inclui os muitos países que possuem dialetos, línguas regionais e não oficiais sendo usados por seus cidadãos.

Devido à globalização, as línguas e as culturas estão se locomovento rápidamente. Mesmo países com apenas uma língua principal, como os Estados Unidos, estão passando por mudanças drásticas. O último relatório emitido pela agência de censo dos Estados Unidos, revela que pelo menos 350 idiomas estão sendo falados em casas americanas.

Tenho certeza que você já ouviu alguns dos muitos benefícios do aprendizado de ídiomas.

Ao sermos capazes de falar mais do que uma língua, aumentamos nossas changes de encontrar melhores oportunidades de trabalho, compreender culturas diferentes, fazer amigos internacionais, obter melhores resultados em testes padronizados, aumentar nossas facilidades mentais, e até atrasar o início da doença de Alzheimer.

UMA IMPRESSIONANTE LISTA DE BENEFÍCIOS!

Ainda assim, quando me tornei mãe, a única vantagem importante para mim era a habilidade de poder me comunicar com meus filhos no meu próprio idioma.

Há um nível de comunicação que só acontece quando você fala a mesma língua e entende a cultura da outra pessoa – e eu queria isso para a minha família.

Meu esposo e eu decidímos criar os nosso filhos bilíngues, embora vivêssemos numa comunidade monolíngue americana na época. Ambos já falávamos algumas idiomas, e o Brett, já havia começado à aprender o português.

Então, quando nossos meninos chegaram, nós lemos muitos livros sobre como criar crianças bilíngues. Também conversamos com amigos, que como nós, estavam ensinando seus filhos mais de uma língua.

O que nós NÃO fizemos:

NÃO para as pessoas que díziam que era impossível ou díficil – tínhamos o objetivo de criar uma família multilíngue, havíamos investigado e sabíamos que era totalmente possível. Então, quando alguém se aproximava para dizer que os nossos filhos ficariam confusos, que eles atrasariam em iniciar à falar, ou mesmo, que a maneira que os nossos filhos falavam era diferente e tinha problemas, nós educadamente ouvimos e totalmente desconsiderávamos os comentários. Mesmo em momentos em que peritos (médicos e fonoaudiólogos) nos disseram para desacelerar em uma das línguas, devido à um dos nossos filhos estar tendo díficuldades com dicção, nós seguimos em frente. 

Como em tudo na vida, é importante sabermos o nosso objetivo desde o início, e entendermos como isso pode ser alcançado. Desta forma, podemos prevalecer na criação que decidímos ser adequada.

Não à Mitos sobre o Bilinguismo: “aprender duas ou mais línguas atrasará aquisição de linguagem” ou “crianças bilíngües misturam suas línguas” são apenas dois dos muitos mitos sobre criação de uma criança bilíngue.

Francois Grosjean, professor emérito da Universidade de Neuchâtel, na Suíça e também autor, escreveu sobre alguns dos mitos sobre o bilinguismo.

“Não acreditar que as crianças são como esponjas: as crianças e os adultos aprendem idíomas por simplesmente viverem em um ambiente rico em linguagem. Aprendizagem de línguas pode ser uma atividade divertida e enriquecedora, porém necessita de estrutura e consistência para ser eficaz.”

O QUE FIZEMOS:

– Eu comecei a falar com as crianças em português desde do começo. Os pimpolhos ainda estavam na minha barriga!

 – Tentei falar só em português com eles. Não funcionou! Falar somente em português enquanto as pessoas ao nosso redor falavam em inglês ou japonês, era difícil pra mim e pra crianças também. Na verdade,  durante a escola primária e parte do ensino médio, meus filhos evitavam falar em português comigo quando estávamos fora de casa. Esta situação mudou drasticamente depois de alguns anos, e explicarei sobre isso um pouco mais tarde.  

– Eu lia em português. E como era a pessoa que passava o maior tempo com as crianças, também lia  livros em inglês e incluí alguns em espanhol, aos nossos momentos de leitura. Os últimos livros eram disponíveis na biblioteca local, onde eu não podia encontrar muitos livros em português.  Esses eram escassos em nossa casa,  pois eram trazidos do Brasil ou emprestados de amigos. 

– Lia gibis e revistas em quadrinhos. Esta abordagem provou ser uma excelente maneira de ensinar cultura e aumentar vocabulário. 

– Marcava encontros com outras crianças brasileiras, também vivendo no exterior. Isso tampouco funcionou. Como pais, imaginámos que as crianças brasileiras só falariam em português entre si, enquanto crianças americanas prefeririam falar em inglês. Aprendemos rapidamente que as crianças só querem se comunicar. Assim sendo, geralmente elas escolhiam a língua dominante, e não a que nós queríamos que escolhessem.

– Tutores e escolas de língua portuguesa. Sempre que disponível, matriculávamos as crianças em escolas que ensinavam português, o que é uma raridade no exterior. E contratávamos tutores, quando necessário.   Em casa, utilizávamos os materiais do Kumon, uma metodologia que visa incentivar na criança a autonomia nos estudos. Meus filhos sempre estudaram em escolas americanas ou internacionais (o português é a segunda língua deles) e, ao usar o método do Kumon, pude ensinar, continuamente, a minha língua nativa.

Nossa filha, agora adolescente, vem usando, com sucesso, o mesmo método para manter seu português durante o ensino médio, na Suíça e agora nos Estados Unidos. 

– Criei um ambiente onde o português estava disponível. Além de falar português com as crianças, também visitávamos  amigos e familiares, tanto em nosso país de residência quanto em viagens ao Brasil.

– Fiz o inverso quando vivíamos no Brasil: trazia as crianças de férias para os Estados Unidos. Desta forma, elas puderam aprender a cultura e se sentir em casa neste país. Ao participar de acampamentos de verão e pré-universitários, visitando familiares e amigos, foi possívell  prepará-los para a vida aqui durante os anos da faculdade.

– Ouvia música brasileira constantemente. Às vezes, como música de fundo,  e em outras horas para criar momentos divertidos. Ao escolher canções cativantes para cantar durante passeios de carro durante os primeiros anos de vida deles, nos divertíamos e praticávamos pronúncia e escuta ao mesmo tempo. Quanto à música americana, escola, amigos e os meios de comunicação fizeram o trabalho por mim.

Desde o começo, decidimos que nossos filhos aprenderiam português como segunda língua.

No entanto, quando a vida nos apresentou a oportunidade de vivermos no Japão, adoramos! Sabíamos que os bilíngües aprendem o terceiro e subseqüentes idiomas com mais facilidade.

Assim, fomos para o Japão.

Durante nosso curto tempo naquele país, nossos filhos foram para uma escola internacional e continuaram à ser alfabetizados em inglês. Eles também tinham aulas da língua japonesa. Em casa, eu falava em português. Porém, como eles eram muito jovens, e ficamos no Japão por somente dezoito meses, eles não aprenderam o idíoma. No entanto, criaram um amor por vários aspectos da cultura japonesa. Recentemente, meu filho do meio, expressou pesar por não ter levado o aprendizado do japonês mais seriamente durante a nossa estada naquele país.

A vida nos surpreendeu novamente, e finalmente conseguimos o nosso desejo de criar nossos filhos falando inglês e português no Brasil. Sim, nossos três filhos são agora verdadeiros bilíngües.

Você se lembra que meus filhos não gostavam de falar em português comigo quando eram pequenos? Isso mudou, e muito! Atualmente, quando estamos nos Estados Unidos, eles preferem falar em português quando estão ao meu redor. E, quando estamos no Brasil, eles falam em inglês.

Embora eu não tenha dados para explicar esse comportamento estranho – nunca falar com a mãe na língua local – eu estou começando à pensar que este tipo de situação acontece com muitas famílias bilíngües, e adoraria ouvir sua experiência.

Quanto aos arrependimentos, eu tenho muitos, mas esses arrependimentos são definitivamente superados pelos benefícios que meus filhos e a nossa família adquiriram por receberem uma educação multilíngue.

Durante mais de 20 anos, nossa jornada familiar como uma família bilíngüe nos proporcionou viver e visitar  várias partes do mundo. Como acontece com muitas famílias como a nossa, essa experiência criou um vínculo especial entre nós, e nos unificou.  E me alegro em poder conversar com os meus pimpolhos em português e inglês!

* Este post foi escrito inicialmente em inglês, e publicado no ExpatJob Blog em março/2016.

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SANDRA BISSELL

Meu nome é Sandra Bissell.
Fui abençoada com a oportunidade de viver como expratriada por mais de 2 décadas.

Algumas das minhas paixões são pessoas, minha família, boas conversas, viajar, comida étnica, dançar e Capoeira, uma arte marcial dançante afro-brasileira.

Originalmente do interior do estado de São Paulo, no Brasil, aproveitei a vida nas prefeituras de Kanagawa e Aichi, no Japão, nas cidades de Boston e São Diego nos Estados Unidos, em São Paulo, Brasil, como expatriada em meu próprio país, Zurich – Suíça e mais recentemente em Stamford, Connecticut, de volta aos Estados Unidos.

Como você pode imaginar, eu me sinto mais confortável com a comunidade internacional.
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